quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um copo de whisky e nada mais


Fazia frio, e ela pouco caso do que estava acontecendo. Ele ali deitado ao chão arrependendo-se de talvez não poder ter arrependimentos. Fez-se então uma pergunta a si mesmo: Pudera um tempo atrás tornar-se tão tão passível de erros como assim o tornou, e mesmo reconhecendo-os, não considerá-los? Refletiu por um certo momento e presumiu que talvez essa reflexão toda não desse em nada. Pensou em algo inteligente para ser escrito em seu epitáfio, mas tudo que conseguia lembrar era de bons petiscos e um copo de Whisky com gelo. Acho que por isso estava morrendo, não sabia bem a causa, não porque fosse um mistério e sim porque nunca ligou muito para doença, saúde e vida.
Sua família ali ao pé da cama mais chorava que tudo, suas filhas não conseguiam lembrar do que fizeram antes de começar a chorar, tamanho era o desespero. Sua mulher em prantos já não se aguentava em pé, e um pouco atrás desse teatro todo se viu apaixonado por um momento, não por sua mulher, essa ele já havia saturado, mas ao fundo viu uma moça loira de aparente e atraentes 22 anos, ela sim olhava com sinceridade, desprezo e um leve recalque de malandragem. Sabia que não tinha chance, mas uns 30 anos antes com seu terno de linho preto e seu Cadillac tocando "Thats life" de Frank Sinatra, aposto que aquela mesma moça que o despreza, o traria boas recordações de uma noite quente em um hotel qualquer de Vegas.
Entretanto, tinha ele que voltar a melancolia da morte, era inescapável, faz parte de um protocolo o qual aquele velho bêbado tinha de seguir. Chamou tuas filhas pediu que compreendessem a situação e que de uma vez por todas parassem de chorar : Papai vai para um lugar melhor. Isso soou devastador, elas choraram ainda mais. O velho nunca foi dos melhores em consolar. Chamou sua mulher e falou: Mary espero que cuide das meninas, mas que sobretudo cuide de sí mesma, lhe ensinei tudo sobre este mundo, e está na hora de por em prática um pouco do que lhe falei em todo decorrer da minha vida. Hoje estou partindo em carne e osso, mas estarei sempre com você, em seu coração. E antes de ir meu amor, chame aquela moça loira ali atrás que eu não conheço, mas que por algum acaso está aqui.
A moça se aproximou como se já soubesse do chamado, então tudo foi ficando distante, visões turvas e o pobre homem já nem sabia onde estava. Apenas via a moça, sempre linda, mas agora um pouco assustadora, ainda que linda , lembrem-se. Onde estou? Quem é você? Já morri né? Aqui não tem Whisky, tem? A moça sorria e era evidente que não estava afim de responder. Mas com muita clareza falou: cale-se homem, você está morrendo e ainda assim fica a encher a paciência alheia. Curta e grossa, ele havia entendido o recado. Ficou ali naquele espaço paralelo aproveitando o breu.
Dado um certo momento, sua vida começou a passar em sua frente, de modo acelerado é claro, se não literalmente demoraria uma vida. Relembrou seus pais, sua infância, sua primeira mulher, seu primeiro carro e por último mas não menos importante, seu primeiro copo de whisky. A moça chega e trava-se o seguinte diálogo:

M: Arrepende-se deste primeiro copo?
H: Como poderia? Esta bebida era como eu, arrogante, forte e elegante. Não poderia me arrepender sequer um segundo de tê-la como companheira.
M: Mas foi esta que acabou com a sua vida
H: Sinceramente, não me importo, não vejo tanta diferença entre vida e morte, a não ser que agora não posso tomar meu Whisky, escutar meu Sinatra, e estar na companhia de uma linda mulher. É se bem que tem muita diferença sim, a morte é bem mais chata, e quanto a companhia da linda mulher, me desculpe , não tenho do que reclamar quanto a isso.
M: Veja, não é teu narcisismo nem mesmo teu descaso que lhe garantirão algo por aqui.
H: Então o que faço para conseguir meu Whisky?
M: Não faça piada da morte, velho tolo
H: Faço piada da vida quando vivo, se morto, por que não da morte?
M: Porque aqui é um espaço que deveria estar mostrando desespero, e acima de tudo muitas dúvidas, este não é o comportamento padrão, mal sei o que fazer com você.
H: Entendo a situação. Chame seu chefe e aproveite e traga um copo de Whisky, 3 pedras de gelo por favor.

Para sua surpresa, a mulher realmente se retira e mais tarde chega um velho barbudo, típico estereótipo do próprio Deus.... com dois copos de Whisky, na bandeja. Trava-se então o seguinte diálogo.

H: Não precisava, eu tomo apenas um copo por hora.
V: Não seja egoísta, parte é meu, ou gosta de beber sozinho?
H: Sinceramente, eu aproveito, mas não dispenso companhia. E a propósito quem é você?
V: Só um velho bêbado que morreu por beber demais, parece familiar para você?
H: Não muito, mas acho que já ouvi essa história em algum lugar. Trágico não?
V: Talvez seja. Não me importo desde que tenha bebida, mulheres elegantes e carros potentes, posso estar na vida ou na morte, na terra ou no espaço, é tudo a mesma coisa.
H: Concordo, mas ainda não vi os carros potentes. E as mulheres elegantes daqui se irritam com meu sarcasmo, talvez precise ganhar um pouco mais de dinheiro por aqui, só assim posso aproveitar minha arrogância.
V: Sinto em dizer, mas aqui não tem dinheiro.
H: Perfeito, inventaremos um sistema monetário para se viver bem na morte, construiremos o sonho americano na terra onde todos estão desacreditados da vida, afinal é a morte. Quem poderia crer no branco quando se vê apenas preto? Além de mim é claro.
V: As vezes você parece mais tolo do que de fato o é. Como pode construir vida na morte? Opostos se atraem mas nunca se tocam.
H: Opostos de fato se atraem mas a parte de nunca se tocarem fica por sua conta, em minha vida eles se tocaram muito, em bancos de carros principalmente.
V: Devo confessar que a perversão é um dos fortes de seu humor ácido. Aproveitei esta conversa, mas agora tenho que ir. A propósito não nos apresentamos formalmente, sou Deus, e não precisa falar seu nome, eu sei, afinal onisciência é um dos fortes do meu humor ácido.

O pequeno velho some em meio a visão ainda turva de nosso herói, agora não se sabe se é pela morte ou pelo fato de estar um pouco bêbado. A moça volta e trava-se o seguinte diálogo:

M: De fato o chefe veio, estou impressionada, deve ter sido realmente uma grande pessoa.
H: Não creio que aquele seja Deus de verdade, a vida é tão cheia de reviravoltas, Deus não gosta de clichês, portanto não deveria ser velho, deveria ser algo mais como homem alto negro de olhos azuis que usa um chapéu de mexicano combinando apenas com uma sunga verde, também do México.
M: Boa observação. Então ali seria Deus. ( Aponta para um homem com chapéu de Mexicano combinando apenas com uma sunga verde, também do México)
H: Uoooou, agora sim estou chocado. Mas se me permitir gostaria de ir embora. Não pude deixar de perceber que durante esta conversa rejuvenesci alguns anos, estou bonito de novo e com uma roupa de gala, meu Cadillac está me esperando.

Dá um beijo na moça e parte. Vai se afastando em uma estrada recém-criada por ele mesmo. Junta-se então,a moça, o velho e o mexicano de sunga e travam o seguinte diálogo:
M: O chefe está cada vez mais boêmio
V: Acha que a humanidade o decepcionou tanto assim?
M: Não sei, mas agora ele gosta mais de um Johnnie Walker do que daqueles pequenos devastadores.
V: Bem observado, eu apenas gostaria que ele parasse de dar replay nos anos 30 e 40.
M: Ele gosta da elegância da old school. Será que tem consciência de ser quem é?
V: Não, faz tempo que o perdera, agora é apenas e de novo um jovem sonhador, pronto para amadurecer mais e mais até que a eternidade resolva colocá-lo de novo nos braços da juventude e da ignorância.
M: Mas é bom vê-lo assim, há tempos não sofre, não liga para as besteiras que fazem suas criações.
V: Liga sim, neste exato momento está renascendo na terra. Ele compensa sua frustração, estando ao lado deles, repetidamente nos anos 40. No fim das contas acho que ele é sensível de mais para abandoná-los.
M: Pudera também , eles são sua melhor criação desde os dinossauros. Estes sim eram legais.
V: Eu gosto da maioria de suas criações, só não muito do Mexicano. Mostra que ele tem um gosto exótico.
MEX: No habla bien de mí, después de todo, todos somos hijos de dios.
M: De hecho, es cierto, sin embargo creo que tengo que retirar, en el hecho de proponer a descender a la tierra y disfrutar de Cancún.
MEX: De acuerdo.
M: Aproveito para ir descansar também. Até amanhã Miguel.
V: Até mais Gabriel.

No fim das contas todos se foram, uns para o paraíso, outros para o México, alguns ousaram até a viver os anos 40. Só sabe que a última frase do velho ou do jovem ou até mesmo de Deus naquela existência foi:" chame aquela moça loira ali atrás que eu não conheço, mas que por algum acaso está aqui." E assim ficou gravado no epitáfio para a infelicidade de sua esposa. Em seu testamento deixou apenas uma unica coisa, uma garrafa do Whisky mais caro da inglaterra, para ele mesmo, a qual foi servido por um velho homenzinho que adora clichês chamado Miguel. Se este é o Deus certo? Eu sinceramente não sei responder, só sei que ele não é em nada diferente de nós, um homem bom, talvez amargurado, mas bom. Existe um pequeno Deus em cada um de nós, em nossos corações e almas, basta achá-lo. Eu continuo procurando o meu, mas aquele velho jovem dos anos 40 encontrou o dele.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A história das cidades e suas distâncias


A estrada me trouxe recordações que outrora já estavam frias. Em alguns quilômetros encontrava rastros de coisas que deixei para trás, mais física do que mentalmente. Os pequenos vilarejos, casas simples com uma especialidade em simpatia e cortesia me faziam lembrar apenas de uma pessoa específica. O charme do interior nunca foi tão charmoso assim, mas os olhos do interior uma vez encontraram os meus, em um hotel. Nunca uma cidade pequena se fez tão grande, a presença dela era redundante,por vezes, invisível por tendência, contraditória por natureza. A unica verdade dessa história era a onipresença do seu sorriso, tão abobalhado quanto reconfortante, abobalhava e confortava.
Não podia prever proporções tampouco marcas que uma pequena cidade de interior poderia me causar. Tornei-me um pouco vulnerável, só não completamente porque a cidade era cercada de insultos por ser ridícula. Ridícula, ficava irritada , a cidade é claro, por não aceitar sua eventual condição de rídicula. Mas na realidade ridículo mesmo era eu que não aceitava minha eventual condição de apaixonado.
O tempo passou e a tão aguardada hora da despedida chegou, foi duro apesar de cercada de formalidades que envolviam beijinhos, promessas de contatos e principalmente o onipresente sorriso que um dia já escrevi sobre. E na poeira da estrada restaram apenas lembranças, e sobretudo esperança.
"Finalmente em casa, enfim minha vida volta ao normal", foi o que pensei, hoje vejo que apesar de minha imensa sabedoria( modéstia , eu sei), fui tolo. E mesmo com a distância física entre o grande e o pequeno, o mesmo grande e pequeno se tornaram cada vez mais próximos. Com a peculiar ajuda do Batman, noites de tédio transformaram-se em aventuras sem fim que sempre acabavam em gargalhadas e um copo de leite antes de dormir. Duas cidades se uniam sobretudo por suas almas, não por convicção ou qualquer besteira ideológica. Essas mesmas almas ameaçaram-se uma a outra a se separarem, o tempo se tornou um forte aliado da distância, na destruição de um castelo . O porém, o único porém disso tudo , é que o castelo não era feito de areia, aliás até era, areia com concreto e tijolos sustentado por uma relação moldada por amor e respeito.Hoje duas cidades sabem que podem contar uma com a outra e que a distância é um mero detalhe na confecção de jóias tão raras quanta a mais verdadeira amizade.
E a estrada continua cruzando caminhos que se perdem por conveniência e se reencontram por acaso ou por amor, e só assim , tão somente assim duas cidades podem enfim descansar em paz, uma ao lado da outra.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Discurso de um nerd politizado


Dilmakin Skywalker finalmente chega ao poder com a ajuda de seu mestre Lula-Wan-Kenoby. Lula usou e abusou de seus poderes frente a república, a força estava do seu lado. Após anos comandando as terras, havia de escolher um sucessor, alguém que dominasse a máquina, alguém pelo qual o estado haveria de se cruzar, um verdadeiro conquistador, ou nesse caso conquistadora.
A batalha foi dura, a república estava dividida, mesmo com o apoio incondicional de Lula Kenoby, o enviado do senhor das trevas José Sauruman continuava a ensaiar uma reação. Os embates, ou chamado de debates pelos mais generosos, eram duros, cheios de sangue, pessoas iam caindo a cada palavra dita, multidões se cruzavam frente ao reino e outrora via-se contra ele.
A batalha perdurou, e quanto mais se imaginava uma polarização de forças, mais subia o último tripé que sustentava a guerra. Marina Silva agora era Tarzan, a defensora da selva, o que se pensava ser anteriormente uma influência dispensável como a de Aquaplinio, agora havia de crescer. Mesmo sem chance de sair literalmente vitoriosa, Tarzan lutou e foi para batalha com a cabeça pouco menos erguida do que de lá sairia.
O dia 03 se aproximava, as armas estavam na mesa, os discursos de vitória escritos,e em alguns casos até declamados. Dilmakim acreditava em um genocídio, sairia vitoriosa em poucas horas de batalha. Enganada. Poucos dias antes surgiria uma traição dentro da república, irônicamente Erenica GUERRA, faria com que a GUERRA prosseguisse. Corrupção no âmago do sistema. Evidente que a notícia logo chegaria em Mordor, Sauron saberia, José Sauruman usaria, e usou. Esse golpe foi duro, o exército de Dilmakin se dividiu, mas nada poderia promover tantas baixas como o tsunami religioso chamado aborto.Este tinha de ser mais maléfico na República dos Trabalhadores do que nas terras médias dos tucanos. Enquanto isso Tarzan crescia, e como um ilustre devorador de pastéis , vinha comendo pelas beiradas. Golpes quase letais não enfraqueceram a guerra, e no dia 03 a batalha começou.
As previsões erraram e Dilmakin Skywalker voltou da luta com o rabo entre as pernas, não havia perdido, mas também não vencera. José Sauruman, considerou a resistência uma vitória e confiou demais nessa ilusão. Um erro que mais tarde ele saberia. Tarzan por sua vez havia perdido, fisicamente. Moralmente, talvez fosse o grande vencedor da batalha das urnas. Sua resistência mostrou força e coragem, e sua voz se fez ouvir desde as repúblicas das galaxias até as terras médias. Seu apoio agora era fundamental para o último embate, os exércitos de ambos os lados esperavam sua palavra final para trucidar o adversário. Sabiamente, e agora sim com a cabeça erguida tão devidamente quanto deveria ser, promulgou então seu desprezo por ambos os lados, ao não apoiar algum deles. Skywalker e Sauruman sabiam que agora estavam por conta, sangue iria rolar na parte final desta crônica.
Foi anunciado, por Ricardo Gandaldovsky, o mago branco, ao amanhecer do dia 31 seria decidido o poder da terra. E até lá os dias se arrastaram, pequenas batalhas ali e acolá, acusações, provas, corrupção, Lula Kenoby usava a força, fazia com que elas desaparecessem, por outro lado a terra de Sauron estava dividida, líderes dos elfos paulistas não se entendiam com líderes dos anões mineiros, um exército dividido, é um exército morto.
Dia 31 chegou, a batalha começou ao amanhecer e ao anoitecer estava decidida. Lula Kenoby não apenas passou pelos obstáculos, mas atropelou todos eles. Dilmakin havia vencido, as terras médias se encolheram, a república havia triunfado novamente. Kenoby depositou toda sua confiança em Dilmakin, no entanto não foi capaz de mandar embora o Lord Sith, José Palpatine Dirceu, continua. O lado negro ainda existe, se ele ainda é capaz de corromper, só o futuro nos dirá. Só espero que o final da história mude e Dilmakin não se transforme em Darth Vader.

"PS: A foto da Megan Fox não tem nada a ver com texto, é só porque eu queria tirar onda com a foto dela aqui em casa. Então, tirei né ? Beijo meu amor "